Suas mãos sujas seguravam o binóculo enquanto a procurava do outro lado do vale. Eram tantos os contrastes, tantas diferenças, na verdade, muito mais que aquele vale os separava.
A primeira vez que a vira, era um vulto debruçado sobre a janela, com os olhos perdidos, parecia sonhar. Tinha sido semanas antes, muito antes do assalto de hoje. Agora com o binóculo podia vê-la em detalhes. Mas antes, apenas o vislumbre do seu vulto já havia lhe roubado a atenção, o sono, o sossego, os anseios, os pensamentos, os planos. Logo ele que vivia de roubar os outros. Mas depois dela, tudo havia mudado. Este foi o último assalto, apenas para ter o binóculo, ele se prometeu. Agora fazia planos, sua vida adquirira um sentido, um brilho, um tom de esperança.
Pelo binóculo ele a tinha bem perto, quase podia tocá-la. Seus olhos pretos, seu rosto sério, seus cabelos fartos de cachos que desciam deslizando pelo pescoço esguio e delicado.
Sonhava com ela todas as noites, imaginava sua voz e seu toque. Acordava suado, agitado. Várias vezes ensaiou palavras e foi à porta de seu prédio, mas de lá voltava cabisbaixo, vencido pela insegurança e pelo medo da rejeição. Outras vezes, sonhava com seu cheiro, seu gosto, inventava-lhe um nome e ganhava um sorriso. Mas curioso, pensava ele, vista pelo binóculo ela pouco sorria, era tão séria e muitas vezes chorava. Nestes momentos ele se transportava e do seu lado a protegia, abraçando-a ternamente.
Os dias passavam na esperança do encontro. Numa tarde, chegando em casa, ele era pura satisfação. Conseguira um trabalho como moto-boy. Como sempre se dirigiu para o alto da laje, binóculo nas mãos, enquanto isso ensaiava as palavras que brevemente diria a ela. Estava decidido, iria mais uma vez esperá-la defronte do seu prédio, e quando ela saísse, se encheria de coragem para aproximar-se. Enquanto pensava, trouxe o binóculo aos olhos para tê-la, desta forma, pelo menos por enquanto mais perto.
Ela parecia agitada, ia de um lado a outro do quarto repetidamente e chorava. Ele procurou seus olhos, estavam vermelhos, carregados de angústia e suas mãos trêmulas deslizavam freneticamente sobre os cabelos. Ela encostou-se no vidro da janela, colocou a cabeça entre as mãos. Ele quis sair ao seu encontro, mas inesperadamente ela abriu a janela e sentou-se sobre o peitoril, estava agitada, olhava para o nada e seus olhos transmitiam uma tristeza absoluta. Quis abraçá-la, mas diante da impossibilidade, gritou e acenou-lhe. Ela não o enxergava, ele jamais existira. Gritou mais uma vez, ela então olhou à frente e lhe sorriu abrindo os braços, ele tentou devolver o sorriso, mas ela não mais estava lá.
(Sarah K > dez/2006)
A primeira vez que a vira, era um vulto debruçado sobre a janela, com os olhos perdidos, parecia sonhar. Tinha sido semanas antes, muito antes do assalto de hoje. Agora com o binóculo podia vê-la em detalhes. Mas antes, apenas o vislumbre do seu vulto já havia lhe roubado a atenção, o sono, o sossego, os anseios, os pensamentos, os planos. Logo ele que vivia de roubar os outros. Mas depois dela, tudo havia mudado. Este foi o último assalto, apenas para ter o binóculo, ele se prometeu. Agora fazia planos, sua vida adquirira um sentido, um brilho, um tom de esperança.
Pelo binóculo ele a tinha bem perto, quase podia tocá-la. Seus olhos pretos, seu rosto sério, seus cabelos fartos de cachos que desciam deslizando pelo pescoço esguio e delicado.
Sonhava com ela todas as noites, imaginava sua voz e seu toque. Acordava suado, agitado. Várias vezes ensaiou palavras e foi à porta de seu prédio, mas de lá voltava cabisbaixo, vencido pela insegurança e pelo medo da rejeição. Outras vezes, sonhava com seu cheiro, seu gosto, inventava-lhe um nome e ganhava um sorriso. Mas curioso, pensava ele, vista pelo binóculo ela pouco sorria, era tão séria e muitas vezes chorava. Nestes momentos ele se transportava e do seu lado a protegia, abraçando-a ternamente.
Os dias passavam na esperança do encontro. Numa tarde, chegando em casa, ele era pura satisfação. Conseguira um trabalho como moto-boy. Como sempre se dirigiu para o alto da laje, binóculo nas mãos, enquanto isso ensaiava as palavras que brevemente diria a ela. Estava decidido, iria mais uma vez esperá-la defronte do seu prédio, e quando ela saísse, se encheria de coragem para aproximar-se. Enquanto pensava, trouxe o binóculo aos olhos para tê-la, desta forma, pelo menos por enquanto mais perto.
Ela parecia agitada, ia de um lado a outro do quarto repetidamente e chorava. Ele procurou seus olhos, estavam vermelhos, carregados de angústia e suas mãos trêmulas deslizavam freneticamente sobre os cabelos. Ela encostou-se no vidro da janela, colocou a cabeça entre as mãos. Ele quis sair ao seu encontro, mas inesperadamente ela abriu a janela e sentou-se sobre o peitoril, estava agitada, olhava para o nada e seus olhos transmitiam uma tristeza absoluta. Quis abraçá-la, mas diante da impossibilidade, gritou e acenou-lhe. Ela não o enxergava, ele jamais existira. Gritou mais uma vez, ela então olhou à frente e lhe sorriu abrindo os braços, ele tentou devolver o sorriso, mas ela não mais estava lá.
(Sarah K > dez/2006)
15 comentários:
Que lindo Sara, que triste... me lembra a paixão platônica do filme O Homem que Copiava, mas lá, no filme, teve final feliz...
Belo texto. Adorei!!
Beijos, ótima quarta! =)
É... assim... Como dizer... Que foi isso ó.Ò
Lindamente triste... Perfeitamente escrito e com cada cena me seu lugar fazendo correr levemente...
Simplesmente perfeito... Adorei.
Parabéns pela bela escrita e obrigado de coração pelas palavras no RT =]
:********
Muito bonito. Bem elaborado, um conto perfeito.
Vi muita ternura, muita busca, muito amor.
Um beijo,
Naeno
Upz!!!
Não esquecendo claro, que a música que colocou aqui no seu blog é simplesmente fabulosa =]
Deixa babanco =]~
Andante roxxx =]
:****
Saber expressar o que sentimos com palavras é uma arte e vc tem o dom!
:) Lindo texto!
Quanto às janelas, tbm tenho uma queda, não sei ainda o motivo, adoro!
:)
bjo
Lindíssimo este texto Sara! Lindíssimo e triste mas pleno de sentimentos. Obrigada pela visita ao campo.
Beijo
Tão triste...
Todo mundo já se sentiu um pouco assim, né?
:(
Olá voei do blog do Naeno prá cá sem sair daqui mesmo, até que enfim eu encontrei outros bloggers daqui...tô em sobressalto, volto com calma para ler tudo...
Beijos
marcelo
A vida sempre passa... as vezes pela janela...
Adorei te conhecer.
Paz!
interrompemos extraordinariamente as férias da Babi para visitar amigos da blogosfera e deixar um beijo bem gostoso!
:*
agora... segue o ócio...
sabe, to amando minhas férias, até artesanato andei fazendo... vem ver...
Que final... triste mas forte.
Sarah que bacana, adorei o texto e o final surpreendente!
Bjs
Bravíssimo, menina de trança do pescoço esguio e delicado...
Um beijo do Eulálio.
o q dizer...
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