quarta-feira, dezembro 20, 2006

que festa ... ??!?

“Algumas pessoas dizem que Papai Noel é comunista, primeiro por que é a cara do Karl Marx (só por causa da barba), segundo por que se veste de vermelho e terceiro por que dá presentes para todas as crianças, independente da classe social.”
(extraído de:
PAPAI NOEL EXISTE? )

(que ironia ... Karl Marx não iria gostar muito de saber desta associação de sua imagem ao ícone do consumismo natalino; mas distorções à parte, o conceito seria interessante ... entretanto, na prática, a teoria é bem outra!)






Eu não gosto de Natal!!
O Natal, na verdade, poderia ser um momento de consciência, de fraternidade real, de igualdade social. Mas o que vemos é uma festa direcionada ao consumo voraz e cego. Qual o objetivo disto tudo? Penso nisto e sinto um enorme vazio de objetivo e conceito. Me assusta o que prega esta cultura consumista, superficial e sem propósito, enquanto o que acontece por trás deste cenário de luzes e consumo é um mundo escuro de pobreza e miséria, de menores abandonados e famintos, de violência alimentada por uma brutal desigualdade social, de trabalho escravo, de trabalho infantil, de pedofilia, de racismo, de desmatamento, de aquecimento global, de escassez de água, de tortura em animais, de seca e fome no sertão, de desabrigados por enchentes, de violência contra mulher, de desrespeito dos políticos para com nossa sociedade; ou mesmo, de milhares sofrendo e morrendo em guerras burras patrocinadas pelos americanos na terra onde teria nascido Jesus.
Quanta incoerência!!!
O que festeja-se mesmo???


Deixo aqui um link para quem quiser tentar: POR UM NATAL ORIGINAL


(Sarah K > dez/2006)

sábado, dezembro 16, 2006

DES-fazendo

Era a fome de um beijo, queimando ainda em seus lábios, que a deixava assim absolutamente farta da saudade que acompanhava os dias e noites de sua solidão. Vagava junto a ela pelas ermas calçadas daquele tortuoso caminho, onde trôpega tentava cobrir os mesmos passos, ainda frescos sobre o barro, deixados muito antes de tocar os lábios daquele desconhecido.


Sarah K > dez/2006

(foto: Jacek Gąsiorowski)

terça-feira, dezembro 12, 2006

... o mundo não mudou

Suas mãos sujas seguravam o binóculo enquanto a procurava do outro lado do vale. Eram tantos os contrastes, tantas diferenças, na verdade, muito mais que aquele vale os separava.
A primeira vez que a vira, era um vulto debruçado sobre a janela, com os olhos perdidos, parecia sonhar. Tinha sido semanas antes, muito antes do assalto de hoje. Agora com o binóculo podia vê-la em detalhes. Mas antes, apenas o vislumbre do seu vulto já havia lhe roubado a atenção, o sono, o sossego, os anseios, os pensamentos, os planos. Logo ele que vivia de roubar os outros. Mas depois dela, tudo havia mudado. Este foi o último assalto, apenas para ter o binóculo, ele se prometeu. Agora fazia planos, sua vida adquirira um sentido, um brilho, um tom de esperança.

Pelo binóculo ele a tinha bem perto, quase podia tocá-la. Seus olhos pretos, seu rosto sério, seus cabelos fartos de cachos que desciam deslizando pelo pescoço esguio e delicado.
Sonhava com ela todas as noites, imaginava sua voz e seu toque. Acordava suado, agitado. Várias vezes ensaiou palavras e foi à porta de seu prédio, mas de lá voltava cabisbaixo, vencido pela insegurança e pelo medo da rejeição. Outras vezes, sonhava com seu cheiro, seu gosto, inventava-lhe um nome e ganhava um sorriso. Mas curioso, pensava ele, vista pelo binóculo ela pouco sorria, era tão séria e muitas vezes chorava. Nestes momentos ele se transportava e do seu lado a protegia, abraçando-a ternamente.

Os dias passavam na esperança do encontro. Numa tarde, chegando em casa, ele era pura satisfação. Conseguira um trabalho como moto-boy. Como sempre se dirigiu para o alto da laje, binóculo nas mãos, enquanto isso ensaiava as palavras que brevemente diria a ela. Estava decidido, iria mais uma vez esperá-la defronte do seu prédio, e quando ela saísse, se encheria de coragem para aproximar-se. Enquanto pensava, trouxe o binóculo aos olhos para tê-la, desta forma, pelo menos por enquanto mais perto.
Ela parecia agitada, ia de um lado a outro do quarto repetidamente e chorava. Ele procurou seus olhos, estavam vermelhos, carregados de angústia e suas mãos trêmulas deslizavam freneticamente sobre os cabelos. Ela encostou-se no vidro da janela, colocou a cabeça entre as mãos. Ele quis sair ao seu encontro, mas inesperadamente ela abriu a janela e sentou-se sobre o peitoril, estava agitada, olhava para o nada e seus olhos transmitiam uma tristeza absoluta. Quis abraçá-la, mas diante da impossibilidade, gritou e acenou-lhe. Ela não o enxergava, ele jamais existira. Gritou mais uma vez, ela então olhou à frente e lhe sorriu abrindo os braços, ele tentou devolver o sorriso, mas ela não mais estava lá.


(Sarah K > dez/2006)

terça-feira, dezembro 05, 2006

o que tinha de ser


"Ah, assim não vale, esta história é minha!" Pensei ao ver Rodrigo Santoro em Lost.
Um dia, já perdido na poeira do tempo, escrevi um relato onde ele ao sofrer um acidente de avião, ficava perdido em uma ilha. São destes escritos pueris de pós-adolescente ainda vitimizada pelos hormônios, que tentarei me lembrar agora.



Foi numa época em que ele era mais magrinho e novinho, mas já prometia tornar-se este homem magnífico (uau!) que é hoje. Para evitar maiores frustrações, quando me vi naquela inusitada situação – eu também me salvara do acidente – decidi optar pela indiferença, já que estávamos só eu e ele naquela ilha perdida. Ele era calado e desconfiado, parecia um bicho de 7 cabeças e, certamente, sentiu grande alívio em me ver fingindo que ele era um Zé ninguém. Eu, ao contrário, fazia enormes sacrifícios para deixá-lo em paz.

O tempo foi passando e devido à vida dura, aquele jovem ainda franzino foi ficando forte, bronzeado, com um ar selvagem, barba mal feita e um aroma corporal hiper natural (rs). Estas coisas de ilha deserta, onde a vida não é nada fácil. Sair à procura de alimento, subir em coqueiros, procurar lenha, fazer fogo, carregar pedras, pescar, cozinhar, tentar construir jangadas e montar cabanas improvisadas que o vento insistia em derrubar. Eu estava me sentindo a própria mulher das cavernas e ele já pensava em puxar meus cabelos, reflexos do isolamento, solidão a dois, sol na cabeça e muito frio durante a noite.
Impossível não criar intimidade numa situação destas, a batalha diária para manter-se vivo nos aproximou. Já estávamos íntimos mesmo, aquela intimidade da convivência, de cooperar, de rir junto e de se aborrecer e brigar também. Em determinados momentos era difícil entrar num acordo, meu jeito controlador se irritava com aquela personalidade leonina de estrela “sei tudo, sou o melhor”, apesar da leve modéstia que no fim tudo salvava. Mesmo assim era excitante esta guerra de egos que aproximava muito mais que afastava. Eu já sabia que ele roncava horrivelmente e ele era vítima de meus pontapés noturnos, tudo na mais santa convivência.
Muito trabalho de dia e noites estreladas, lua no céu, papo na areia junto à fogueira, ou noites úmidas de muita chuva e frio com direito a abraços necessários, fortes e quentinhos. Ocupávamos nosso tempo livre em contar nossas histórias de vida um para o outro. Vários 'climas' tinham pintado, beijos, mãos bobas, outras nem tanto, e só! Para quebrar o gelo, nem música, nem álcool, nem qualquer espécie de droga, só a fome dos hormônios que crescia a cada dia.

O que foi?!! Estão pensando que estou na Lagoa Azul!?? Que nada! Nada de olhos azuis, cabelos louros levemente despenteados, nem maquiadores e figurinistas de Hollywood. Certos dias eu queria morrer. Aquele cabelo que parecia uma palha, a pele nem se fala, as unhas uma lástima, e a depilação, que depilação!? Nestas horas, lógico que eu evitava pensar na Luana Piovanni. Socorro, era o que eu queria gritar!
Foi num destes dias quando eu sonhava com um maravilhoso salão de beleza, que Rodrigo parecia mais ousado, um olhar faminto e o ar que parecia elétrico, carregado daquela energia masculina que faiscava. O dia foi uma lástima, várias discussões, o vento destruiu a cabana, eu estava uma pilha, ele sem paciência, ambos irritados. Eu pensava em cremes, máscaras faciais, massagens capilares, numa sessão de yoga. Estava de saco cheio de dormir mal, acordar cheia de areia pelo corpo, com a pele irritada e fustigada pelo capim, de usar pedras para lixar as unhas ou aparar cabelos e usar plantas xerófilas para massageá-los inutilmente, além daquela polpa de coco melificada numa tentativa mirabolante de hidratar a pele. Pqp, como mulher é um bicho chato, sofre à toa!! Enquanto isso, ele contentava-se em prender o cabelo com um fio de palha, aparar a barba com lascas de pedra e continuava lindo, perfeito e selvagem com aquela pele áspera e bronzeada, aqueles músculos naturalmente adquiridos e na cabeça a única preocupação que ocupa a mente masculina, toda vez que me olhava semi nua dentro daqueles farrapos que restaram da minha roupa.


Aquela noite caiu pesada e abafada, um calor insuportável, meus seios doloridos e inchados, uma cólica insuportável, aquele monte de areia sobre a palha, os mosquitos zunindo no meu ouvido e picando meus tornozelos, uma irritação crescente com tudo à minha volta, uma p*** vontade de gritar e chorar. Faltava nada para eu explodir no vulcão da minha tpm, quando ele veio se encostando em mim, eu não agüentei e bradei irritada: “putz, que calor insuportável, dá para você deitar lá do outro lado?” Ele me olhou abismado e ainda tentou ensaiar uma insistência, mas eu me sentia um bicho, olhei feio e o empurrei sem paciência. Acreditam?!! Ele tentou, insistiu e eu não dei. Fui dormir, e ai de quem tentasse me dissuadir disto!

Ao abrir os olhos na manhã seguinte, pensei que tinha surtado, olhei para o lado e ele não estava lá, mas 'pollyanamente' na insanidade da tpm me conformei, estávamos perdidos mesmo ali, quem sabe para sempre, daí pensei: “ah, melhor assim, só porque ele é o Rodrigo Santoro e 'se acha' está pensando que vai ser fácil ?!!”

Mais um dia começava e, perto da praia, ele fitava o horizonte, eu o observava de longe tentando escapar de sua ira masculina. De repente ele gritou, apontando: “um barco, olha, ali!” Ele veio correndo, me abraçou empolgado e disse “estamos salvos!”. Rimos nervosos e começamos a gritar, pular, abanar as mãos, fazer sinais de fumaça. Por sorte o barco passava nas proximidades da costa e nos viu. Quando o homem tentava ancorar perto da praia, minha ficha caiu. Ele desceu e veio ao nosso encontro e nesta hora eu quase disse: “oh moço, dá para voltar mais tarde?”

Rodrigo ria quase sem acreditar, eu tentava parecer feliz, mas na verdade queria era chorar só de pensar na noite anterior. Que salão de beleza que nada! Maldita tpm!

Nem preciso contar que até hoje lembro minha raiva e frustração naquela hora, né gente?! O mesmo raio não cai nunca duas vezes no mesmo lugar. Burraaaaaa!!



Ainda bem que daqueles dias ficaram diversas lembranças nem tão desagradáveis como a última ... (rs). Para vocês garotas deixo esta receita natural de beleza, perfeita para pele ressecada:
A polpa do coco verde é um hidratante rico em potássio e óleos. Pegue um coco verde com água, separe a água, faça uma papa com a polpa e vá juntando a água aos poucos até obter uma consistência cremosa. Passe uma camada bem espessa desse creme no rosto limpo e deixe por 30 minutos. Retire a máscara com a água de coco restante. Use também em todo o corpo para reduzir o ressecamento.
E para os garotos? Ah, falem com o Rodrigo ...



(Sarah K >dez/2006) (foto: globo.com)

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Violência Doméstica


Você sabia que o Brasil é um país campeão em violência doméstica?
A Campanha de Ativismo pelo fim da Violência contra as Mulheres é realizada há 16 anos em 130 países, de 25 de novembro a 10 de dezembro. No Brasil a Campanha é promovida e articulada, nacionalmente, pela AGENDE em parceria com redes de mulheres, de feministas e de direitos humanos, órgãos governamentais, representações de Agências da ONU no Brasil, empresas públicas e privadas.
São 16 dias de campanha, e o motivo para a escolha destes dias (25/11 a 10/12) reside no fato de que entre estes estão quatro datas muitos siginificativas na luta da violência contra a mulher e pelos direitos humanos.
Vejam:
25 de novembro – Dia Internacional da Não-Violência contra as Mulheres
01 de dezembro – Dia Mundial de Combate à Aids
06 de dezembro – Massacre de Mulheres de Montreal (Canadá)
10 de dezembro - Dia Internacional dos Direitos Humanos
O slogan é Uma vida sem violência é um direito das mulheres!
Vamos todos apoiar esta campanha!
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"Donas de Casa: a violência dentro da família
As donas de casa são duplamente violentadas; enfrentam a agressão física que machuca o corpo e a alma e as agressões psicológicas que deixam marcas para toda a vida.
Uma em cada cinco brasileiras sofre ou já sofreu algum tipo de violência física, sexual ou alguma outra forma de abuso por parte de um homem. Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, de 2001, revela que 16% das agressões são casos de violência física, 2% de violência psicológica e 1% de assédio sexual. Calcula-se que, a cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil. Ainda segundo dados da Fundação, as mulheres só denunciaram a violência sofrida dentro de casa quando se sentiram ameaçadas em sua integridade física.
De acordo com estudos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), de 1993, uma em cada cinco faltas de mulheres ao trabalho é por motivo de violência doméstica. Os abusos físicos mais freqüentes são tapas, socos, surras, homicídios. Existem, ainda, as agressões sexuais, caracterizadas pelo estupro, atentado violento ao puder e assédio sexual. Além da violência física, abusos psicológicos, como ameaças, maus-tratos e discriminação atingem o emocional das mulheres, destruindo sua auto-estima.
A violência doméstica é a violência física, sexual e psicológica que ocorre dentro da família, praticada geralmente por pessoas que mantêm uma estrita relação com a mulher. Estudos indicam que o lugar menos seguro para a mulher é a sua própria casa: o risco de uma mulher ser agredida em casa, pelo marido ou companheiro, é nove vezes maior do que o de sofrer alguma violência na rua. Várias culturas aprovam, toleram e chegam a justificar certas agressões, o que, somado ao medo e à impunidade leva as vítimas e se calarem.
Sob alegação de adultério da mulher, muitos homens conseguem ser absolvidos em julgamentos de agressões e assassinatos contra suas companheiras. Embasada na tese jurídica da legítima defesa da honra, ainda aceita na Cortes brasileiras, os agressores continuam impunes. No Brasil um importante exemplo é o caso Maria da Penha, ocorrido em 1983, quando após sofrer tentativa de homicídio por parte do marido, Maria da Penha Fernandes ficou paraplégica e aguardou decisão da Justiça brasileira por 19 anos.
Juntamente com o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos das Mulheres (CLADEM) e o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), a vítima entrou com uma ação contra o País na Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Em 2001, o Estado Brasileiro foi condenado pela primeira vez em sua história, por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica.
Maria da Penha teve sua luta homenageada com o nome da Lei 11.340/2006, aprovada e sancionada em agosto, que trata da violência doméstica e cria mecanismos de coibição das agressões. Entre eles estão a criação de juizados especiais para atendimento dos casos e de centros especializados para as mulheres vitimadas.
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Dados:
- A cada 15 segundos uma mulher é espancada pelo marido ou companheiro no Brasil, segundo a Fundação Perseu Abramo, 2002
- Um em cada cinco dias de falta ao trabalho é causado pela violência doméstica, que faz com que a mulher perca um ano de vida saudável, de acordo com o BID, 1993.
- Mais de 70% dos casos de violência são de espancamento de mulheres por companheiros.
- Quase metade das mulheres assassinadas são mortas pelo marido, companheiro ou namorado. A violência responde por quase 7% de todas as mortes de mulheres entre 15 e 44 anos no mundo todo.
- Em alguns países, até 70% das mulheres relatam terem sido agredidas fisicamente e 47% declaram que sua primeira relação sexual foi forçada. Dados da OMS, 2002.
- A Lei 10.778/2003 (Maria da Penha) estabelece a notificação compulsória dos casos de violência contra a mulher, atendidos em serviços de saúde pública ou privado.
A notificação tem caráter sigiloso."
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