domingo, abril 30, 2006

a CASA de Vidro

Lina Bo Bardi, São Paulo, 1950
projeto de Lina para sua própria residência
fotos de Peter C. Sheier, Fernando Albuquerque e Marcelo Ferraz

A beleza ímpar desta construção se traduz neste diálogo equilibrado entre a obra arquitetônica e a natureza: a casa dentro da mata e vice-versa. Suavemente implantada no alto do vale ela parece flutuar sobre o cume da colina, através de uma extensa cortina de vidro permite uma ligação imediata com o exterior, internamente um vazio central preserva a árvore que impediria sua locação neste sítio, num convívio pacífico e integrado de duas linguagens.

Hoje a visão do vale que se vê diante da cortina de vidro não é mais a mesma, edificações surgiram na vizinhança, no bairro do Morumbi, durante as últimas décadas, entretanto o equilíbrio e o diálogo permanecem, a vegetação do entorno - conjunto exemplar de mata atlântica preservada - utilizada como filtro empresta ainda uma visão mágica para o observador que adentra a casa, ou no caso de quem a observa de fora e vê uma verde cortina tênue cercando-a numa espécie de mimetismo.

Considerada um manifesto da arquitetura moderna, a Casa de Vidro, assim como o todo seu terreno de 7000 m² foi tombado como Patrimônio histórico e natural em 1987 e doada em 1995 para sediar o Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.

Sobre a arquiteta e a obra: http://www.institutobardi.com.br/instituto/instituto/historia.html

Vejam mais algumas fotos da Casa: http://mega.ist.utl.pt/~arco/pag4.html

Notícias 2006: http://www.italiaoggi.com.br/not01_0306/ital_not20060206c.htm

sábado, abril 29, 2006

"ilusão ... veja as coisas como elas são"

Aqui o dia amanheceu cinzento e frio. Eu melancólica. Isto me fez lembrar um trecho das Belas Imagens – transcrito a seguir. Hoje não estou nenhuma Beauvoir, auto-suficiente e forte. Estou mais para Fragilidade ....


"Ela se afasta, os ombros um pouco curvados. Laurence sai para o terraço que domina o vale. Ao longe, a brancura do Sacré-Coeur, as ardósias dos telhados de Paris brilham debaixo do céu de um azul intenso. É um daqueles dias em que a alegria da primavera desponta debaixo da friagem de dezembro. Pássaros cantam nas árvores nuas. Na auto-estrada, lá embaixo, carros deslizam, reluzentes. Laurence fica imóvel; o tempo de repente parou. Por trás desta paisagem orquestrada, com as suas estradas, seus conjuntos, seus loteamentos, os carros apressados, algo transparece, cujo encontro a tal ponto comovente a faz esquecer as preocupações, as intrigas, tudo: ela não é mais senão uma espera sem começo nem fim. O pássaro canta, invisível, anunciando o longínquo renascer. Uma mancha cor-de-rosa arrasta-se no horizonte e Laurence permanece por um momento paralisada por uma misteriosa emoção."
[AS BELAS IMAGENS - Simone de Beauvoir]

Queria ter o dom de arrancar de dentro de mim estes sentimentos que por vezes me dilaceram. Queria ser o deus de mim e dizer: faça-se o esquecimento! Isto só no último dia da criação, para não sofrer a tentação de recordar. Queria ter a borracha mágica que apaga as dores, pressionar a tecla delete do PC das minhas mágoas ... Queria possuir o "brilho eterno de uma mente sem lembranças". Aquelas difíceis e dolorosas, aquelas que demoram em despedir-se, auxiliadas pelo tempo que se arrasta pesadamente.

(Sarah >abril/2006)

quinta-feira, abril 27, 2006

Revelação

foto: Katarina Sokolova
.
O olhar por entre os vidros da janela
De repente
Revelou aquela imagem
Os dentes
Brancos
Francos
Aquele sorriso quente
De quem sente
O novo no ar
Os cabelos ao vento
As mãos
A voz
Os gestos
De repente um convite
Palavras diziam pouco
O olhar já denunciara
Tudo
Todo
O desejo
.

(Sarah > novembro/89)

quarta-feira, abril 26, 2006

CHOVIA


Vazia estava.
... como uma árvore no outono, desnuda, desfolhada. Como aquele frasco do perfume preferido, que quando procurado, nada resta, nenhuma gotinha.
... com a boca vazia de beijos, a vontade órfã de iniciativa, a mente zerada de idéias, os pés vagando sem trilha, meu desejo desprovido do seu fruto.

Nada tão grave nem definitivo. Só um dia chuvoso que engole o brilho e as cores, sem calor, inundado, sem arte e sem desastre até. Como um vácuo. Alguns destes dias têm o dom de fazer de mim um conjunto vazio, mas não me impressiono.

Rasgando a manhã, faz o sol hoje a sua estréia, secando as minúsculas gotinhas sobre as folhas das árvores, transformando-as em pequeninos reflexos, como uma renda verde salpicada de pedrinhas brilhantes. Não mais cinza é o dia, agora é vibrante e inundado de cores, reflexos e sensações.

Chega o sOl e me preenche novamente. E daí, transbordo!

(Sarah > abril/2006)

segunda-feira, abril 24, 2006

Em busca do espécime perdido

Hoje uma sessão besteirol prá relaxar, afinal falar sério o tempo todo cansa ... rs. Esta crônica alguns já conhecem, mas vale a pena reler. Dei um up grade!


A solução é morar em New York! Levantei-me subitamente, pensando cá com meus botões, após uma sessão de dvd. Bem, não tenho certeza disto, mas que estão tentando me convencer, estão! O único problema é que eu não suporto a ideologia americana. Mas continue lendo, talvez você consiga ajudar-me neste dilema.
Está bem, está bem, não é tão fácil assim. É fato: i don't speak english, leio um pouquinho, mas tenho um inglês macarrônico que chega a beirar o ridículo e não é nada fácil conseguir um visto (relaxem, eu não assisti América!).
Ok! Todos devem estar se perguntando por que repentinamente quero mudar-me para New York, logo eu que nem curto a sociedade americana, acho-a terrivelmente capitalista, degenerada, de um humor bestial e tosco, e metida à m.... . Logo eu que vivo na Bahia, paraíso tropical, sol o ano todo, axé o verão inteiro e forró para completar o resto do ano! Aqui você sempre tem com quem dançar (isto é vantagem?), mas se é um espécime solteiro do gênero feminino ... tsc, tsc, pergunte ao IBGE!

Bem, chegamos ao "X" da questão. New York... Manhattam... Vocês já viram um lugar sobre o planeta com uma quantidade mais surpreendente de espécimes do gênero masculino disponíveis? E o melhor de tudo, interessantes, bem sucedidos, inteligentes, bonitos e bem resolvidos? Não, não sou eu quem afirma isto, mas Hollywood ... Ah, e quem sou eu para contestar?!!! Afinal o paraíso para as mulheres single foi descoberto!
Se você assistiu a série "The Sex and the City" sabe do que estou falando. Alguma vez aquelas mulheres ficaram sem namorado? Todos lindos, maravilhosos, gostosos e inteligentes. Ok, tinham uns chatos também, mas eram uma minoria incipiente. No final todas estavam seriamente comprometidas com um belo espécime deste gênero.
O Nirvana existe!? Juro para vocês que tentei convencer-me dizendo: não se impressione garota, são coisas fantasiosas, contos americanos do século XXI.

Hoje, mais uma vez assisto à mesma estória na minha telinha, mas agora com o meu queridíssimo Woody Allen, no seu "Melinda and Melinda" ... perfeito nas suas interpretações e análises psicológicas, sempre enfocando os dramas humanos de uma forma inteligente, irônica, sagaz, espirituosa, bem humorada e ... E o que mais?? Adivinhem??!!
Sim, também a New York de Woody, que não é nenhum exemplo de otimismo, está cheia de homens disponíveis, inteligentes, gostosos, interessantes, bonitos, bem sucedidos ... Sim, uns desinteressantes também, off course!
Melinda, uma mulher deprimida, abatida, insegura, ansiosa - num dos casos - em dois tempos consegue arranjar um namorado fabuloso, músico, interessante, inteligente. A outra Melinda - no outro caso - mesmo sendo uma mulher complicada, estressada, passional, consegue despertar paixões em diversos homens que a disputam.

Comecei a pensar naquela velha frase: "a vida imita a arte". Então, e nós, mulheres analisadas, inteligentes, lindas, práticas, emancipadas, soteropolitanas ou não, não podemos também? I don't know...
Mas em todo caso, corram para um curso de inglês, providenciem um visto urgente, revejam suas ideologias e fiquem de olho no câmbio. E reflitam, reflitam muito: a felicidade mora ao lado ou no hemisfério superior dentro da grande maçã?! Não posso afirmar com certeza, mas segundo um filósofo de botequim: "Não existe caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho". E pode ser o caminho do aeroporto.
Em todo caso, good luck, seja qual for o hemisfério!
Oh! And the single, smart, pretty, interesting, fabulous and sexy man...? Não sei... Tem algum lendo isto?

(Sarah > novembro/2005)

domingo, abril 23, 2006

um dia de AMARCORD

Cinema é a recriação da vida de uma forma simples, porém espetacular. Ele lhe empresta nova dimensão através de uma tela gigante. Num retângulo branco, como numa folha de papel onde se escreveria uma estória, projeções de luz a imprimem por meio de cores, sons, luzes e imagens que lentamente vão recriando a Vida e seduzindo milhares de olhares que brilham diante desta encadernação animada. Assim cores ganham outra vida capaz de imprimir as mais diversas e inesperadas sensações através da fotografia, onde os visuais recriam e inovam perspectivas. Os gestos em close aumentam a dramaticidade, a luz ou sua falta empresta calma
ou tensão aos nossos nervos. A trilha sonora complementa, invocando no nosso inconsciente memórias e associações que vão enriquecendo a estória com nossa experiência pessoal ... Ah, de repente estamos também na tela! O tempo ganha inusitado formato e pode ser aleatório, retroativo, veloz, embaralhado; assim nos sentimos um pouco deuses, capazes de manipulá-lo ao nosso bel prazer. Que maravilha!
Enfim, somos tragados por uma espécie de mundo paralelo e durante algumas horas somos conduzidos por uma embarcação que percorrerá um caminho carregado de emoções inquietantes, instigantes, surpreedentes. Com certeza, uma experiência reenergizante.
Fantástico então quando ele nos coloca diante do “novo”. Escrever esta frase agora, me fez lembrar “Cinema Paradiso”, mas não é daquela criança que quero falar.

Isto me aconteceu ao conhecer Fellini, até o final de minha adolescência e início dos meus vinte anos, eu só conhecia o cinema americano ... Pasmem!
Daí então que fui devidamente apresentada a uma capa de VHS onde se lia AMARCORD – até hoje me lembro as formas sinuosas daquelas letras, das figuras estranhas e pouco belas da capa (minha visão da época) – e convidada para uma sessão caseira de um novo cinema. Era meu namoradinho tentando me impressionar e eu tentando aparentar naturalidade e conhecimento de causa (risos).
A falta da enorme tela branca não foi percebida nesta estréia, as emoções desencadeadas pelo filme substituíram-na. Realmente o significado deste nome – AMARCORD: eu me recordo – não poderia ser mais propício para este post.

Volto depois para contar das minhas “impressões impressionadas” de Amarcord. Agora preciso escrever algo que fez repentinamente meus dedos coçarem.


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Escrevendo tudo isto me veio uma coisa à cabeça. Imaginei um filme dentro do filme, ou melhor dizendo, um novo filme dentro da sala de cinema onde passa-se outro filme. Fui clara? Será isto um argumento? Já foi escrito este roteiro? Não me recordo agora. Alguém aí pode me dizer (não seria como a Rosa Púrpura do Cairo, ninguém sairia da tela não)? Acho que seria algo curioso e genial a depender do roteirista e do diretor. Imaginei a câmera iniciando o filme numa tomada da tela da sala, mostrando o filme em cena, daí passando para os rostos dos expectadores, em close, seus gestos, seus olhos em evidência. Seus pensamentos transformados em estórias que se misturariam com a de outros expectadores, e em algum momento estas estórias se misturariam com o filme da tela, criando desta forma uma desordem proposital, que culminaria num final intrigante e desconsertante.

Bem ... agora só convidando Kubrick para pôr ordem nesta viagem louca (risos). Vou nessa!!

(Sarah > abril/2006)

sábado, abril 22, 2006

OLHO MÁGICO

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Tocaram a campanhia, três sorrisos em pleno carnaval. A porta se abriu, foi quando viu-se o olho mágico, cristal, azul e límpido. Um quarto sorriso em cena. A ausência do olho na porta parecia, mas não era proposital. Era a surpresa, então, a tônica da tarde.

Olhos mágicos azuis e castanhos cruzaram-se e afastaram-se. Impacto. Um momento congelado em contraste.

..... intervalo .....

Mais tarde, olhos mecânicos os aproximariam na necessidade de trazer para o alto o calor e a efervescência das ruas, as cores do por do sol sobre o mar e as evoluções de um jato nos céus.

Olhos mágicos azuis e castanhos entreolharam-se e aproximaram-se com calma. A linguagem do olhar era a única necessária. Traduzido nas cores estava o magnetismo da cena, a polaridade do claro e escuro, a atração dos opostos, a mistura e a fusão, agora não mais de olhares, mas de peles e bocas.
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(Sarah >mar2006)

sexta-feira, abril 21, 2006

... um pouco de Astrologia



Hoje é o primeiro dia do Sol em TOURO
21 de abril a 20 de maio

Desta simbologia astral diz-se ser: afetivo, determinado, leal, sensual, teimoso, materialista, acomodado, possessivo, ciumento, cauteloso, lento, obstinado, ambicioso, conservador ...

"Na mitologia greco-romana seu mito é "Teseu e o Minotauro". O Minotauro de nossa história é o símbolo do Touro furioso que, com sua cabeça de touro e com seu corpo humano, sente sua humanidade completamente dominada pelos seus desejos animais, e por se sentir envergonhado, se enclausura num labirinto absolutamente impenetrável, de onde ele não poderá escapar. Porém, também Teseu é um aspecto do mito do touro, quando com a ajuda do fio que lhe deu Ariadne, consegue matar o Minotauro libertando então a cidade de Minos da maldição. Desta forma vemos que, dentro de cada taurino, existe um herói que pode enfrentar o seu inimigo mais furioso, mas deve se lembrar de tecer um plano cuidadoso para poder se libertar do labirinto de suas paixões e emoções, para estabelecer um relacionamento harmonioso e duradouro como ele deseja. "

Disto tudo, o que mais vi na minha vivência com os taurinos "de verdade" foi o fato de não serem afeitos a mudanças de qualquer espécie. Gostam das coisas que se mantêm estáveis, mesmo aquelas situações que não estão obtendo muito sucesso. Como é de se esperar, tendem a ser muito conservadores e turrões por causa disso. Junto à sua obsessão pelo mundo material, a teimosia é um dos aspectos que mais pode dificultar o convívio com um taurino. Para piorar as coisas são ainda muito cautelosos e lentos, tanto nos gestos quanto no raciocínio, mas não se iludam achando ser uma demonstração de tolice, pois os nativos de Touro estão somente certificando-se da situação, antes de emitir qualquer parecer ou empreender uma ação. Contudo, uma vez decididos, não voltarão atrás. A menos que as circunstâncias o convençam a fazê-lo, mas não sem antes de uma demoradíssima reflexão. Mas não tenha medo jamais em contradizê-los, se for sincero e leal, pois não há nada que eles prezem tanto quanto a sinceridade.

Já o "HORÓSCOPO MALDITO" (texto que circula atualmente pela internet) ... rs "mete o pau" nos taurinos ... olha só:
"Você é materialista e trabalha como um condenado. As pessoas que pensam que você é um pão-duro, cabeça-dura, mão-de-vaca, estão certas. Além disso, você é um teimoso desgraçado que faz só burrada na vida e continua fazendo, fazendo, fazendo...Você deve estar se perguntando... Por que eu trabalho tanto e só me ferro? A resposta é simples: sua cabeça-dura não deixa você enxergar um palmo além do seu nariz. Por isso que você trabalha como um condenado e nunca consegue subir na vida. Só leva fumo! E graças a sua teimosia idiota, continua levando, levando, levando..."

Em resumo: "cabeça-dura" é mesmo com eles!!!

quinta-feira, abril 20, 2006

... dos medos

MEDO
Ele me deu um beijo na boca
Me deixou nua
Completamente vestida
Quando toca ele machuca
Diz coisas obscenas
Me deixa insana
Mas às vezes
Não se explica e foge do prazer
Por pura fobia
Não se entrega à nossa folia
Quando relaxa descuidado
A doçura transparece
Em meio àquele sorriso
Que desconfiado me ri
Aí não dá para esconder
Que toda confusão
Foi enfim
Por puro medo da paixão

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(Sarah >maio/90)

Começando ...

>e-painting "back to life" by Sabin Corneliu Buraga<

MEDO
... curioso começar o blog com a palavra
MEDO, podem pensar alguns.

Avaliar sensações, sentimentos pode parecer um exercício muito racional. Vendo por uma ótica particular, entretanto, "medo" pode parecer uma sensação muito positiva se não paralisar, ao contrário, impulsionar a arriscar, crescer, expandir, ousar .... Penso assim. Num primeiro momento, impetuosamente, posso assustar-me, mas certamente nunca me deixarei paralisar.

Assim começa esse blog com "MEDO", mas sem!