sábado, outubro 28, 2006

NÓS x nós mesmos?

(foto: BBC-Brasil.com)
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“Meu voto é sangue,
volúpia ardente,
Tristeza esparsa,
remorso vão,
E todo dia,
amargo e quente
Cai gota a gota do coração"
(Manuel Bandeira)


Resisti muito a escrever sobre política, eleições e afins aqui no *idéias*, porque como dizem por aí, religião, partido e/ou ideologia política, time de futebol, etc, cada um tem o seu ... Enfim.
Hoje entretanto, às vésperas da decisão, meus pés ansiosos me trouxeram diante do teclado e meus dedinhos afoitos, começaram a roçar as teclas, num gesto mais forte que minha resistência até então.
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Esta eleição, mais do que qualquer outra, rachou o Brasil em dois, um país que se mostra claramente dividido em dois pólos: do sul e do norte, do capital e da força de trabalho, da grande população carente e das elites. Um reflexo claro das mais profundas desigualdades nacionais.
Semana passada, enquanto lia um artigo no blog de um conhecido virtual, professor de Filosofia e de Ciência Política em Minas Gerais, senti claramente este racha e mais algumas questões sobre as quais escreverei a seguir.
(Para um melhor entendimento não deixem de ler o artigo aqui:
Prosa Política).

Não sou acadêmica, filósofa, nem coisa parecida, muito menos entendo de ciência política. O que escreverei aqui será absolutamente baseado em minha visão pessoal.
Como explicou certa vez o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, o que sempre ocorre no Brasil, a grosso modo, em termos eleitorais é a ocorrência do voto clientelístico, ou seja, “o eleitor brasileiro ainda não consegue ter um comportamento político autônomo”. Isto vale desde sempre para a grande maioria dos eleitores brasileiros, seja ela escolarizada ou não, pobre ou não, bem informada ou não, produtiva ou não. Pois é, semi-analfabetos como todos sabem votam neste país. Um país onde desde sempre o acesso à educação é privilégio de poucos. Aos políticos com eleitorado “de cabresto” (uma grande maioria) sempre interessou manter a maioria da população à margem do conhecimento e da educação. E justamente agora, esta mesma camada da população que elegeu por anos a fio estes políticos queixa-se do “povo” que está elegendo Lula. Mas este “povo” foi justamente nutrido pela política clientelista e “emburrecedora” que governou o país anos a fio. O feitiço enfim virou-se contra o feiticeiro.
O que sempre observou-se no comportamento do eleitor brasileiro de um modo geral foi o voto de clientela, o voto que trará algum benefício pessoal. Um candidato como Alckmin que cortará gastos públicos, priorizará as políticas econômicas em detrimento de investimentos em política sociais de impacto, que privatizará estatais não lucrativas (?) será o preferido do setor produtivo, do grande empresariado e das classes mais abastadas. Um candidato como o Lula, que elevou o salário mínimo acima da inflação, implantou programas sociais, incrementou o comércio interior, investiu em política urbana, consequentemente atrairá os votos dos setores menos enriquecidos e mais carentes da sociedade.
Não discutirei agora a questão mais ampla do crescimento econômico nem a questão ética (não menos importantes). Vamos adiante.

Aqui na Bahia, os eleitores de ACM (e olhe que ele tem um eleitorado bastante eclético em termos de nível sócio-econômico) repetiam o bordão “rouba, mas faz” para justificar a sua continuidade no poder. Para estes eleitores, seus interesses pessoais passavam por cima da ética (que tanto criticam agora no governo federal), o importante era o resultado final, ou seja (como vocês leram no artigo do prof. Rubens), “o lado podre do indivíduo em sintonia com o lado podre do candidato” decidia que seu voto seria norteado pelo retorno pessoal, não importando que meios o candidato usaria. Isto vale não só para ACM, mas para tantos outros como Maluf, Collor, FHC, etc.
Assim é o perfil médio do eleitor brasileiro: não tem comportamento político autônomo, é imediatista e tem memória política curta.
Portanto, como se vê, o modelo de eleitorado na sua grande maioria sempre foi este. Porque justamente agora, quando o eleitorado repete o comportamento de sempre (só que em favor de um candidato de perfil popular), determinados setores da sociedade sentem-se ofendidos e bradam como se esta prática fosse fruto único e exclusivo da política praticada por Lula e o PT?

Na realidade, neste país necessitamos com urgência da aplicação de políticas sociais que combatam as desigualdades e diminuam a faixa de miséria de nossa população. Fatalmente esta prática fará com que o setor dito produtivo sinta-se “menosprezado” em prol destas classes mais carentes. Os papéis se invertem, e a classe que sempre foi massacrada e sacrificada agora recebe a justa atenção do governo, o que causa uma sensação de desvantagem nas classes mais abastadas. Acho natural que inicialmente assim seja, “para fazer o omelete temos que quebrar os ovos” como dizia minha avó, algo deverá ser sacrificado por um tempo até alcançarmos um equilíbrio sócio-econômico.
Porque determinados setores sentem-se desprivilegiados, ou até sacrificados? Quanto tempo a grande maioria da população brasileira viveu à margem da sociedade? Porque quando se investe nestas políticas, logo partem para a ridicularização, apelidando-as de “bolsa-esmola”? Acho que a grande votação em Lula reflete a situação social caótica que se instalou no Brasil por longos anos, fruto de políticas que cada vez mais colocavam as classes carentes à margem do crescimento. Os programas de bolsas, no meu entender, são ações emergenciais que se desenvolverão futuramente em programas mais consistentes e menos paternalistas.
Por tudo isto, acho o voto em Lula justificável, apesar do “mar de corrupção”. Um mar que na verdade era um grande lençol freático que existe há muito tempo e veio à tona nos últimos quatro anos.
Quando vota-se em Lula, na verdade vota-se pelo anseio de uma sociedade mais justa, menos desumana. Conseguir esta façanha não é tarefa fácil, concordo. Será que estou sendo idealista? Cada setor da sociedade deverá entrar com sua parcela de colaboração para que este quadro de desigualdades mude. Seria um sacrifício muito grande para a economia e os setores produtivos (o Brasil ficou em penúltimo lugar nas taxas de crescimento econômico nos últimos anos)? Uma questão preocupante. Mas como crescer desta forma? Devemos desistir do equilíbrio social e chegar à conclusão, mesmo antes de tentar, que o lado mais carente e pobre da estória é quem deve sempre sacrificar-se? E que quem governa pensando nesta parcela massacrada da sociedade visa apenas manobrá-la e usá-la para garantir seu projeto de poder?
Desconfio deste posicionamento, me parece justamente o tipo de discurso que projeta no alvo a atitude de quem o critica: o crítico cujo discurso é o oposto de suas ações, ou trocando em miúdos: "faça o que digo, mas não faça o que eu faço".
E assim continuamos.
Continuamos vítimas da repetição: na corrupção, na falta de ética, no clientelismo. Isto sim continua como sempre foi, muito antes, mas muito mesmo, de Lula ser presidente. São vícios arraigados na política brasileira que agora encontram em Lula o seu bode expiatório.
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(Sarah K > out/2006)

quarta-feira, outubro 25, 2006

INfinito delírio

(foto: Per Eide)
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quando estamos em gôzo
deveria ter o tempo
um formato diverso
poderia ser mágico
auto multiplicar-se
estender-se infinitamente
adiantar e retroceder
acelerar
pausar e repetir
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parecer com teus dedos
deveria
quando percorrem meu corpo
ao subir e descer
úmidos
mornos e inquietos
quase perdidos ao me encontrar
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parecer com tua pele
com teus fluidos
quando fundem-se aos meus
deveria
no ir e vir das descobertas táteis
que arrepiam
e disparam sensações caleidoscópicas
descargas de um prazer
sem medidas
interminável
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infinito
assim como este tempo
deveria ser ...
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(Sarah K > out/2006)

domingo, outubro 22, 2006

o discreto charme da Perfeição

................................ (detalhe: Vênus – Botticelli)
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Gente ...
desculpem-me a demora em postar novamente, mas na verdade foi proposital. O post anterior causou muitos comentários, polêmica e curiosidade, alguns ficaram surpresos, outros divertiram-se muito com minha naturalidade na abordagem. Eu mesma fiquei muito surpresa com a receptividade e deixei mais tempo para "ouvir" todas as impressões possíveis. Prometo voltar em breve com minha mais nova faceta em ação ... Sarah - sexóloga (rs).

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Temos apenas mais uns dias com o Sol em Libra e eu ainda não postei nada sobre. Já havia prometido a uma amiga que vive do outro lado do Atlântico e hoje é dia então de pagar esta dívida.

Uma poesia para Libra:

"Equilíbrio
Henriqueta Lisboa
Estar não estando
no riso e no pranto.
Posso ir sem domínio
dentro do possível.
Ser de si o oposto
sem deixar de ser
imóvel movente
que só por angústia
de tempo resvala
para achar o fluxo
do plectro em refluxo.
Pendente da sorte
do imã da força
dos próprios recuos,
o pêndulo pende
mediante a tangência
de eflúvios
que estuam
adversos à inércia."
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A palavra chave desta simbologia é Equilíbrio. Desta forma, então, podemos considerar os librianos indivíduos conciliadores. Um diplomata sempre em negociação, aparando as arestas e restabelecendo a paz. Existe nestes seres um desejo muito marcante pela Perfeição, o que é externado de uma forma confusa para quem os observa, pois o que ocorre geralmente é que quando se apaixonam por um projeto, não medem esforços para realizá-lo. No entanto, ao final, já estão cogitando algo melhor, porque depois de profunda dedicação, o projeto inicial lhes parece não muito perfeito e então eles abandonam tudo, sem consultar nada nem ninguém, causando desta forma grande confusão e decepção aos que lhe acompanham. Isto tudo demonstra, superficialmente, uma grande inconstância, mas são as oscilações da Balança que na verdade configuram a maior busca da personalidade libriana: a Harmonia através da perfeição.
A Escolha também é um momento muito difícil para os librianos, visto que eles têm um modo muito eqüidistante de ser. A mente oscila entre diversos pontos de vista, ponderando todos, analisando tudo sob vários ângulos – a visão múltipla libriana. Como é difícil aos librianos escolher, vocês não imaginam o quanto!! Isto tudo também porque eles precisam sentir-se justos e imparciais, além de também necessitarem tremendamente de agradar a todos (uma coisa meio que impossível, mas eles procuram obstinadamente a Harmonia, entendam!). Entretanto, isto é uma tarefa facílima para eles, pois são regidos pelo planeta da sedução e sensibilidade. Esta regência lhes confere grande poder de sedução, uma boa dose de charme e refinamento, um jeitinho meigo, gentil e compreensivo e por fim uma elegância natural que independe de status social. Um libriano por mais humilde e simples que seja vai destacar-se pelo charme, beleza e elegância extremamente naturais, que o toque magnético e fascinante de Vênus lhes conferiu desde o momento do nascimento
Relacionar-se com maestria é na verdade o grande trunfo dos librianos. Eles conseguem manter uma aura de encanto em torno de si mesmos, utilizando o charme e a rara habilidade de extrair o melhor de cada pessoa, sendo justo, aproveitando as virtudes e perdoando os defeitos (depois de muita reflexão, lógico!). Por isto são mestres em relacionamento social.

(Sarah K >out/2006)

domingo, outubro 08, 2006

de Boca em Boca

....... ......... ....... (achei esta imagem na Net, mas não encontrei o nome do autor)

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Tenho falado tanto de política, em e-mails, em mesa de bar, que resolvi deixar este assunto fora do blog. Aqui só prazer ... então ...

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Inspirada por um e-mail que recebi outro dia de minha amiga virtual Rose, onde um homem (isto mesmo, um homem!) discursava sobre o
clit com muito conhecimento de causa e conclamava outros homens a descobrirem realmente onde ele fica, como deve ser tocado e a sua importância para a satisfação sexual feminina; e também por conversas polêmicas com algumas mulheres e homens, lembrei-me de um livro que li há três meses atrás: a história da vida de uma mulher egípcia sob o prisma da sexualidade. Num determinado ponto do livro ela conta que numa noite, em meio a uma “DR” brava, o seu companheiro confidencia exasperadamente que já a havia traído com um homem, justificando a atitude com o prazer que o sexo oral, praticado por "quem entende" (palavras do personagem), é muito melhor que o praticado pela mulher.
O que me chamou atenção neste trecho do livro foi o fato da observação masculina a respeito da importância do sexo oral e do fato de muitas mulheres não gostarem de fazê-lo, de se recusarem a fazê-lo ou de fazerem por pura obrigação ou medo de que o parceiro procure outra.
Diversas mulheres queixam-se que os homens não sabem tocá-las com suavidade, que são apressados e insensíveis. Sim, isto é verdade. Mas também me lembrei que vários homens comentam que uma grande parte das mulheres quando fazem sexo oral parecem apressadas, desconfortáveis ou até mesmo meio enojadas. Vamos então falar sobre isto?

Resolvi abordar o assunto com a naturalidade que muitas gostariam de ter no momento de praticá-lo. Na verdade, acho que só deveríamos praticar se realmente desejássemos fazê-lo com entrega e muita satisfação.
Sexo oral, fellatio, ou "boquete" como é vulgarmente conhecido, deve ser um ato praticado com extremo prazer, senão acaba transformando-se numa tortura para o homem e principalmente para a mulher. Preconceitos à parte, na hora que li o desabafo do homem no livro, o entendi perfeitamente.

Assim, como nós mulheres adoramos um sexo oral bem feito, os homens, antes de tudo, deliram com ele. Eu arrisco dizer que é a prática sexual preferida entre a maioria dos homens. E assim como é extremamente desconfortável para nós mulheres, um oral mal feito e apressado, assim o é também para os homens. Por isso, não assumirei aqui o papel unilateral, observando apenas a questão feminina da busca do prazer - acho-a fundamental - e por isto mesmo abordo o assunto por encarar o sexo de forma global. Se queremos obter mais prazer e qualidade no ato sexual, deveremos, também, nos empenhar em oferecer a mesma satisfação ao nosso parceiro.

Daí então amiga, se você resolve fazer sexo oral em seu parceiro, faça bem feito! Não pegue no bichinho como se estivesse com nojo (rs)... pegue com vontade, com propriedade, com desejo, olhe para ele e deixe que esta visão a comova! Demonstre isto, ele vai adorar. Não tenha pressa, entregue-se, esqueça o tempo. Puxe-o delicadamente em sua direção e deixe sua língua deslizar de baixo para cima, e, chegando lá dispense bastante atenção à cabecinha, ali reside o segredo. Deixe sua língua deslizar sobre ela em círculos de uma forma bem suave e sensual, da base para a ponta. Logo abaixo da cabeça tem um trocinho chamado freio, muito sensível, é uma região altamente erotizada no homem; então, sem deixar de segurá-lo, deixe a ponta de sua língua deslizar neste ponto num misto de delicadeza e firmeza. Outra coisa muito prazerosa é o ato de envolvê-lo com sua boca, nesta hora é gostoso imaginar um picolé ou sorvete, aprecie o sabor do seu homem, mas não deixe seus dentes estragarem a festa (rs) ... Faça um pouco de pressão com os lábios sempre molhados e capriche, mas sempre volte com a língua para a pontinha, lembre-se que o sexo oral não deve ser monótono, varie os movimentos de forma macia, úmida e quente. Pense que suas mãos, sua boca e língua podem operar milagres. Interaja com seu parceiro, olhe para ele, demonstre seu tesão, seja criativa! Ah, outro lugarzinho de exploração pode ser nos testículos, alguns homens adoram ser abocanhados (rs)... Um de cada vez, suavemente e com cuidado, depois deslize sua língua macia e relaxada na base dos testículos, e suba de volta deslizando suavemente... Enfim, chupe, aperte, sopre, acaricie e saboreie; tudo com muita suavidade e volúpia. Deguste seu homem, demonstre o quanto ele é gostoso, afinal sexo oral é uma espécie de banquete!

Solte-se e deixe seu tesão comandar. Procure satisfazê-lo plenamente e liberte-se dos tabus e preconceitos, são eles que na maioria das vezes estragam este momento que pode ser inesquecível e extremamente prazeroso principalmente para o homem, que com certeza, feliz e satisfeito vai lhe devolver em dobro!



(Sarah K >out/2006)

segunda-feira, outubro 02, 2006

outra POESIA

.............................. (homem Vitruviano – da Vinci)


Desculpem-me tanta ausência.
Tenho andado ultimamente escrava de uma disciplina mais exata, mas nem por isto menos sutil e poética. De repente me vi prazerosamente presa entre traços e tangentes, ângulos e curvas, pontos e retas. Um momento verdadeiramente cartesiano, certamente cercado de criatividade, mas que me furtou das palavras, do prazer que tenho de brincar com elas, de montá-las e desmontá-las ao meu bel prazer.

Minha poesia transmutou-se. Das palavras migrou para a forma, foi capturada por outra espécie de símbolo. Escapou às letras e da ponta do meu lápis nega-se a surgir através da escrita, mas transparece concretamente em meio aos esboços e criações, fruto dos meus afazeres cotidianos.
Minha poesia foi capturada pela geometria. Em meio a minha ansiedade por palavras que não escapuliam da minha mente diretamente para a ponta dos meus dedos, às vezes me perguntei: uma geopoesia, uma poemetria, que faço eu agora?

Imagino que, momentaneamente, sigo hoje na eterna busca, não mais pelas palavras, mas percorrendo o inexorável caminho da existência, como duas retas numa perspectiva que buscam o (encontram-se no) INFINITO.

(Sarah K > set/2006)