sexta-feira, junho 30, 2006

esquecer ... sem querer

foto: Christian Coigny
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era assim
por mais que ele negasse
ela continuava ali
era simplesmente fechar os olhos
e tudo voltava
forte e ardente
como marca de fogo sobre a pele
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impresso no seu corpo
havia ficado aquele cheiro proibido
assim ela permanecia
sutil e escancarada
mansa e forte
doce e erotizada
reinava absoluta
imperiosa
dominando seu desejo

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(Sarah K >jun/2006)
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terça-feira, junho 27, 2006

VOCÊ é deles?


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Estorinha “sem noção” patrocinada pelos patrocinadores 2006 (melhor se lida em tom de deboche ).
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Hey, sabia que o itaú quer você? Hum ... andas disputado hein! Vai tomar uma skol para comemorar? Ok! Mas não fique redondo (de convencimento), pois não vamos te vender, afinal pelo Mastercard você não tem preço!
O que vamos fazer?? Ah ... vamos te dá-dá-dá, pois a
Pepsi mandou!
Ora, decepcionado!? Reclama então com a
Ford, foi ela quem decidiu tentar o novo.
*the end*
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Faltou o guaraná antártica – você deve estar pensando ... Desculpa, mas o Maradona bebeu tudo, afinal, ele não toma mais coca.
tchaaau!! (com a mãozinha ridícula ...)

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(Sarah K >jun/2006)

domingo, junho 25, 2006

a cor e a DOR

foto: Michael H. Sinn
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Ao encontrar seu homem com outra, perdeu a noção das coisas. Cega de raiva, como uma selvagem quebrou tudo à sua volta, saindo em disparada, correndo pela rua, desgovernada. Lágrimas escorriam daqueles olhos azuis e desciam pela pele branca; a face de um anjo desfigurada pela dor. A raiva deixava trêmulas as suas mãos e o ciúme a tornava temporariamente cega e tremendamente doída.
Corria, apenas corria, e ainda ofegante e atônita percebeu que estava diante de um cemitério, ao lado, alguém vendia flores, mas a alegria lhe havia sido roubada. Do outro lado da rua um luminoso chamou sua atenção, suas luzes e o silêncio puxaram-na para dentro. Chorava ainda, soluçando, olhos vermelhos, borrados, cabelos desgrenhados. Uma mocinha vestida de vermelho, veio atendê-la e penalizada tentava consolá-la. Olhava aturdida para aquela mancha vermelha que a servia, parada à sua frente, mas não lhe escutava, apenas ouvia seus próprios soluços e chorava, chorava, chorava ... Queria comer, comer, comer, depois sumir e dormir por incontáveis dias e noites. E depois? Respostas não lhe ocorriam.
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Enquanto comia, observou ao redor e percebeu a garota ainda de pé ao seu lado, falando, falando ... Sim, falava sem parar sobre alguém que havia morrido. Percebeu então que a garçonete, a consolava como se achasse que ela houvesse saído daquele sepultamento que acontecia do outro lado da rua. Seus olhos caminharam lentamente em direção ao cemitério, enquanto ela pensava em como felizes seriam seus dias se ela pudesse encerrar todo amor e dor que sentia dentro daquele caixão e abafá-lo sob a terra daquela sepultura. E ela sorriu.
A garçonete confusa, via despontar daquele rosto sofrido, um misto de cinismo e prazer. Ela então, levantou-se, pagou a conta enquanto apanhava a faca que repousava sobre o prato, olhou para a mocinha e seu vestido Vermelho, buscando inspiração e saiu.
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(Sarah K >jun/2006)
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sábado, junho 24, 2006

memórias de caranguejo



Desde o dia 21 de junho estamos sob o signo de Câncer. Uma simbologia relacionada à sensibilidade, valores familiares, memória relativa à coisas vividas. Pessoas, com energia canceriana marcante no seu mapa astral, podem sentir-se fortemente introvertidas, tímidas, inseguras, maternais, sensíveis, perceptivas, reservadas e muito agressivas quando sentem-se em perigo. Por ser regida pela Lua, esta simbologia confere muita instabilidade, pois assim como a Lua tem suas fases, os cancerianos também as têm.
Encontrei uma poesia da Cecília Meireles que ilustra muito bem uma necessidade vital de Câncer: a estrutura familiar. A energia canceriana aparece na necessidade de proteção e amor. Estar numa atmosfera familiar significa abrigar-se de todas as mazelas do mundo - o senso de proteção. A ligação com o lar ou família é muito grande, afinal os frutos precisam da árvore.
O sentimento está acima de tudo e a memória é longa e bastante maleável. Vinte anos atrás é como se fosse hoje; e porque o passado é presente, os cancerianos podem esquecer o presente. Entretanto sabem que não podem reproduzir o passado no presente, mas sabem também, que vivendo o presente podem relembrar o passado. Aí é que está outra palavra-chave do signo (como vocês verão também na poesia), a memória e sua reprodução.
Então podemos compreender deste signo que, permanecer é viver o presente, enquanto e ao mesmo tempo em que, memorizar é estar preso ao passado.

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Memória
Cecília Meireles

Minha família anda longe
contravos de circunstancias:
uns converteram-se em flores,
outros em pedra, água, líquen,
alguns, de tanta distância,
nem têm vestígios que indiquem
uma certa orientação.

Minha família anda longe,
- Na Terra, na Lua, em Marte -
uns dançando pelos ares,
outros perdidos no chão.

Tão longe, a minha família!
Tão dividida em pedaços!
Um pedaço em cada parte...
Pelas esquinas do tempo,
brincam meus irmãos antigos:
uns anjos, outros palhaços...
Seus vultos de labareda
rompem-se como retratos
feitos em papel de seda.
vejo lábios, vejo braços,
- por um momento, persigo-os;
de repente os mais exatos,
perdem a sua exatidão.
Se falo, nada responde.
Depois, tudo vira vento,
e nem o meu pensamento
pode compreender por onde
passaram nem onde estão.

Minha família anda longe.
Mas eu sei reconhecê-la:
um cílio dentro do Oceano...
um pulso sobre uma estrela,
uma ruga num caminho
caída como pulseira,
um joelho em cima da espuma,
um movimento sozinho
aparecido na poeira...
Mas tudo vai sem nenhuma
noção de destino humano,
de humana recordação.

Minha família anda longe.
reflete-se em minha vida,
mas não acontece nada:
por mais que eu esteja lembrada,
ela se faz de esquecida:
não há comunicação!
Uns são nuvem, outros lesma...
Vejo as asas, sinto os passos
de meus anjos e palhaços,
numa ambígua trajetória
de que sou o espelho e a história.
Murmuro para mim mesma:
"É tudo imaginação!"

Mas sei que tudo é memória...

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quarta-feira, junho 21, 2006

... por trás do brilho

NOITE ESTRELADA - Van Gogh
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Estou afastada, por alguns dias, das minhas atividades, espero voltar em breve, mas como não quis abandoná-los, deixo aqui uns trechos sobre um tema, que, quem conhece-me bem sabe que amo - ESTRELAS. Olhá-las provoca em mim emoções e questionamentos muito intensos.
Deixo, aqui, os textos junto com esta música, tentando evocar aqui neste espaço o mesmo fascínio que sinto ao admirá-las.
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VAN GOGH em "Cartas a Théo"
"Esta é a eterna questão, a vida é só isto ou conhecemos apenas um hemisfério antes da morte? Quanto a mim, não sei responder, mas a visão das estrelas sempre me faz pensar."
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MÁRIO QUINTANA - "Das Utopias"
"Se as coisas são inatingíveis ... ora!
Não é motivo para não querê-las ...
Que tristes os caminhos se não fôra
A mágica presença das estrelas!"
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sábado, junho 17, 2006

rima com lipídios

foto: globoesporte.com
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Gente, o Bussunda morreu hoje na Alemanha. Nossa! Estou aqui ainda sem acreditar. O Brasil vai rir menos agora. Mas tenho certeza que de lá de cima, junto com os anjinhos barrocos, ele vai continuar aprontando das suas.
Bussunda, toda paz para você!
O post de hoje tem uma veia divertida e irônica em homenagem ao seu jeito bonachão, inteligente e irônico.
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Olhem só, vou entrar na fofoca do momento. O mundo inteiro está falando, não resisti, deixem-me entrar na modinha também! É ... é isto mesmo! O tema é Ronaldo Fenômeno e o crescimento nada discreto do seu abdômen. Meu lado virginiano não se conteve e precisou manifestar-se ... [rs]
Fofocas à parte, na verdade, entendo pouquíssimo de futebol. Posso listar rapidamente aqui meus parcos conhecimentos futebolísticos:
*tiro de meta – é aquele momento em que o time que quer fazer gol põe a bola fora, pela linha de fundo. O goleiro é o sujeito que dá o tiro.
*escanteio – aquele momento em que o time que pode sofrer um gol, desesperado põe a bola fora, pela linha de fundo. Daí quem quer fazer o gol ganha a oportunidade de chutar dali do canto da bandeirinha.
*gandula – aquele cara que fica correndo atrás da bola, mas não joga, só repõe.
*pênalti – quando a falta é praticada dentro da pequena? grande? área – naquela área perto do gol – sei que vocês me entenderam.
*barreira – jogadores enfileirados, com a mão "ali", para impedir a passagem da bola para o gol numa cobrança de falta, e com medo de tomar aquela bolada ... Ui! Imagina quando é o Roberto Carlos que vai cobrar?
*impedimento – este é complicado. É um acontecimento que em 90% dos casos existe polêmica. Na verdade, nunca consegui entender o processo, só sei explicar que é assim: um espertinho saiu correndo na frente, na hora errada.
Bem é isso e, corrijam-me se houver alguma mancada ....
Ah não, tem mais uma! Ao contrário da namorada do Fenômeno, sei que a equipe tem 23 jogadores, sendo que 11 entram em campo.
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Bem, mas voltando à fofoca futebolística do momento, neste caso não é preciso entender muito de futebol e sim de psicologia e forma física, creio eu.
Na verdade, sempre achei este título “Fenômeno” exagerado demais (mas como vocês viram eu entendo quase nada de futebol), entretanto reconheço seus méritos de craque, mas craques temos diversos. No meu ponto de vista, o que ocorre é um sério abalo na auto-estima fenomenal (!!!) e, a dificuldade de lidar com este fato, em função do escancarado sucesso do seu xará Ronaldo Gaúcho. Não ser mais a estrela, tem deixado nosso Fenômeno (?) descompensado. Felipão, quando técnico, muito sagaz, percebeu o perfil carente de Ronaldo e na época comentou, em uma entrevista, o quanto ele era mimado. Nosso craque fenomenal, mais do que uma terapia física, precisaria de uma terapia psicológica. Cuidar da cuca nestes tempos de culto ao corpo, pode andar fora de moda, mas é essencial. Sem falar que evitaria a maioria dos “micos” que ele anda pagando – na atuação contra a Croácia, apenas 23 segundos com a bola, contra os 60 minutos que esteve em campo – um fiasco!
Pensando nisto tudo, não pude controlar minha ironia. Nosso Fenômeno (?) às voltas com sua crise pessoal, apenas conseguiu equiparar-se ao seu xará e desafeto psicológico na rima nada fenomenal - aquele: Ronaldinho Gaúcho, e ele: Ronaldinho Gorducho.
Saindo de fininho ...

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(Sarah K >junho/2006)
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sexta-feira, junho 16, 2006

achados & perdidos

foto: Samantha Wolov
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vagando pela noite
ele pensou ‘naquele amor’
sufocado e reprimido
tão bem camuflado
que se daria por perdido

mais uma vez fugia
entrou no carro
mas ‘ele’ não saiu
de teimoso ali permanecia
incrustado
escondido
no porta-luvas trancado
impresso
nas marcas do pára-brisa
no som do rádio abafado
no cheiro doce do banco
ou num reflexo no retrovisor guardado

cansado daquela fuga
como num espelho dentro d’outro
naquela perspectiva infinita
o resgatou e refletiu enfim
"onde mais ‘ele’ estaria
senão aqui em mim"

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(Sarah K >jun/2006)

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quarta-feira, junho 14, 2006

de bobeira



sem idéias
meio ôca

existe o vazio?
penso no ôco do côco
um ninho de água
a água se espalha
se molda suavemente: adaptação
mata a sede e refresca
o côco é
verde
e o verde?
esperança!
me sinto ecológica
abraço a natureza
esperançosa
a polpa é
branca
penso na paz

me espalho
no verde
em
paz

olha!
idéias brotaram
do vazio
branco
e fertilizadas pelo
verde
espalharam-se



(Sarah >maio/2006)
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sexta-feira, junho 09, 2006

LÚBRICO

Foto: Patrick Demarchelier


Foi deslizando seu olhar pelo labirinto daquelas pernas, subindo silenciosamente até onde repousava o segredo.
Delta inundado onde suas mãos mergulhavam ávidas e cegas de desejo.
Triângulo sem bermudas, exposto e belo; um vácuo onde, perdido e cego, poderia naufragar.
Um mar tempestuoso repleto de perigos ... ou quem sabe, calmo e deliciosamente irresistível.
Que fazer senão mergulhar?

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(Sarah >jun/2006)
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quarta-feira, junho 07, 2006

já fui estrela?



A palavra da vez é reciclagem. Hoje tudo e todos reciclam-se. É a onda do reaproveitamento, da atualização. Em casa você separa o seu lixo para promover um melhor reaproveitamento de tudo que antes acreditava-se não ter mais utilidade. Não esquecendo nunca a máxima: "nada se perde, tudo se transforma". E nessa linha de raciocínio, você, parte integrante desta grande sociedade que consome e se consome, vai reciclando-se também. Procurando fazer seu upgrade pessoal você investe em cursos de aprimoramento, um novo corte de cabelo, uma renovada no guarda-roupa, uma viagem a um lugar desconhecido ... Neste processo quer estar sempre no topo da cadeia da vida, ou nas suas proximidades, não quer ser devorado, nem descartado como um resíduo. E se eu lhe disser que você é um resíduo?

Você me olhará entre incrédulo e irritado e dirá: "eu sou o homo sapiens, sou o supra-sumo da existência orgânica, represento a evolução da espécie humana no seu estágio mais avançado. Caminhei a duras penas, desde a idade das cavernas, ainda quase um quadrúpede, sobrevivi à bárbarie, floresci na cultura greco-romana, fugi da Inquisição e salvei-me das pestes medievais, me vangloriei com a conquista do Novo Mundo, refinei meu conhecimento no Renascimento, evolui tecnicamente com a Revolução Industrial, sobrevivi às mazelas das guerras mundiais e do Holocausto, presenciei enfim toda a revolução tecnológica e de automação. Sou hoje a encarnação da evolução, modernidade e superação, e você vem me dizer que sou um resto?"

Você olha para o céu e depois para você, aperta o botão "reverse" da sua história evolutiva e pensa na escuridão antes das cavernas.
Pensa.

E aí, já parou para pensar na imensidão do universo, na poeira cósmica insignificante que é o nosso planeta? Como tudo começou? Sim, tem a teoria do big bang, o buraco negro, a corrente dos criacionistas, dos evolucionistas. Mas é bem mais simples ...
Pense numa estrela, uma longínqua estrela cintilante na imensidão do universo chega ao fim da vida, pára de brilhar, e assim sucessivamente, milhões e milhões de estrelas morrem universo afora. Elas são fonte de carbono e quando morrem liberam grandes quantidades deste elemento essencial aos compostos orgânicos no universo.
Sim! Nós! Nossa vida começa da reciclagem universal que se opera no silêncio e na escuridão. Somos restos mortais de estrelas, somos a reciclagem primordial!
E você aí pensando que era um produto original ...

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(Sarah >nov/2005)

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domingo, junho 04, 2006

dias de pólvora

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Pneus furados. Ela desconsolada.
Acontecimento banal e corriqueiro que a fazia chorar copiosamente, com uma raiva incontida expressa aos soluços.
Um homem, ao lado olhando-a curioso, pergunta: "Tem um macaco?" Ela vira-se descontrolada, olhos arregalados e grita: "Nesta selva, macacos não me bastam, preciso de um gorila!!"
O homem afasta-se abismado ...
Coisas de TPM.
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(Sarah >jun/2006)

sexta-feira, junho 02, 2006

outubro está chegando ...

Aprendemos na escola o que significava cada cor na nossa bandeira ...
Agora temos mais uma cor a aprender: VERMELHO de vergonha ...
(outdoor premiado)


Hoje lendo o texto abaixo, pensei no nosso congresso e refleti: bem que poderíamos praticar o que diz as últimas duas linhas com os nossos "nobres candidatos" nessas eleições.
Quem se importa conosco afinal??

"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando

Mas já é tarde
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo."
(Bertolt Brecht - emprestado da Cacau)

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